Todo o planeta foi surpreendido e enfrenta a pandemia do COVID-19, que alterou completamente a rotina dos seres humanos e colocou um freio em todas as atividades de cada um de nós e da economia dos países. São tempos difíceis que requerem foco, persistência e criatividade por parte setores de serviços, indústria e das instituições pública e privadas, inclusive as que atuam na área de educação. As escolas, universidades e uma enormidade de cursos presenciais enfrentam a paralisação das aulas e o desafio de, apesar de seus portões fechados, manter o aprendizado dos alunos, independente do nível escolar.
Muitas instituições têm reunido seus profissionais para definir de que forma podem dar continuidade as suas atividades e não interromperem as tarefas escolares. E apontam como única alternativa o ensino online. Ninguém pode chamar essa paralisação de férias e tampouco cruzar os braços e desobrigar as crianças da necessidade de manter o foco no aprendizado.
Cada setor da economia está buscando sua melhor opção para superar a paralisação das atividades este mês, que pode se estender para outros meses, caso a orientação de isolamento das pessoas em suas residências não resultar na contenção da curva de contaminação pelo COVID-19. A maioria das instituições se empenha para oferecer conteúdo online, mas nem todas estão preparadas.
“Muitas escolas não estão preparadas para oferecer aulas online. Em algum momento, como agora, a necessidade vai gerar a busca pela tecnologia, que não é tão complicada. Basta montar uma plataforma, selecionar o material e disponibilizar na Internet”, comenta o professor Paulo Milet, presidente do Conselho de Administração da Riosoft, um dos pioneiros na implantação do ensino à distância no Brasil e dirigente da eschola.com e Inova-ead.
Com décadas de experiência na oferta de ferramentas que facilitem e viabilizem o ensino à distância, Milet atuou em várias frentes: desenvolveu projetos para o BNDES, se associou ao ex-piloto de Fórmula 1, Nelson Piquet, para desenvolver um programa para rastreamento de caminhões. Entre outras atividades, elaborou um programa com a Central Única das Favelas (CUFA), para preparar os alunos para as provas do Enem. Milet, atualmente, é uma referência nacional quando o assunto é ensino à distância.
Ele reconhece que quando os primeiros cursos foram oferecidos havia muito preconceito em relação às escolas e aos próprios estudantes que se apresentavam com certificados de ensino à distância. “Havia preconceito e desqualificação”, comenta. O cenário mudou completamente e milhares de pessoas possuem uma formação acadêmica em cursos à distância. “E já não são desqualificados quando procuram um emprego”, afirma Milet. Pelo contrário, as empresas estão mais abertas e conscientes de que o ensino à distância é o futuro do aprendizado. Até porque “ninguém nunca deve parar de estudar e aprender”.
“Não se pode mais conceber um ensino em que o foco é o professor e não o aluno”, comenta o professor Milet para quem o trágico problema do contágio do Coronavírus vai colocar em outro patamar o ensino à distância e derrubar a resistência que ainda existe para que o ensino online seja disponibilizado também para o ensino fundamental. Algumas escolas têm suas plataformas bem desenvolvidas, principalmente as de segundo-grau. O ensino fundamental ainda exige a presença do professor para conceituar o aprendizado dos pequenos, embora a projeção seja de um mercado em evolução na geração de tecnologias. “Daqui a pouco, haverá games criativos e de ensino reconhecidos. Em vez da criança passar para a outra fase quando acumular pontos contra o inimigo, ela passará para a outra fase quando aprender a lição”.
Milet não faz esses comentários porque estamos diante da tragédia mundial com o COVIND-19. Desde a década de 90, escrevia artigos questionando o formato do aprendizado, onde o foco está colocado no professor e não no aluno. “A educação tem de ser um processo contínuo, para a vida toda”, comentava em 1996 em um de seus artigos. Para ele, quem se formou há mais de 20 anos e parou de estudar e aprender “ não é mais um profissional confiável”.
As oportunidades de ensino à distância estão colocadas por várias instituições de ensino no Brasil e no exterior, em universidades de reconhecida excelência como Harvard. “Antes se dizia que, para aprender, era preciso saber ler. Agora, para aprender é preciso saber navegar na internet e selecionar o curso de graduação, pós-graduação e doutorado”.
É claro que ele reconhece a complexidade de se fazer essa transição do ensino presencial para o à distância e a dificuldade de segmentos da população ter acesso às novas tecnologias. Lembra, no entanto, que o acesso ao celular já é uma realidade no país, independente da faixa de renda. Essa expansão do ensino à distância, no entanto, ainda tem enorme dependência de regulamentação por parte do Ministério da Educação. Atualmente, não se permite esse tipo de aprendizado para cursos com o de Direito, Medicina, Odontologia e Psicologia e são inúmeras as exigências do MEC para credenciar cursos de ensino a distância.
Para aceitar cursos online para outras formações, o governo exige a criação de polos de educação à distância, o que gera algumas dificuldades na hora da decisão dos investidores. O MEC ainda identifica esses polos com escolas formais e exige que tenham salas para aulas presenciais, banheiros e bibliotecas. Há pouco tempo, essas exigências caíram para os cursos de pós-graduação e doutorado.
Há quase 25 anos, Paulo Milet defende o ensino à distância e alerta para a zona de conforto de professores que dão “aulas burocraticamente para uma plateia desinteressada”. O maior desafio para os professores “é prepararem o material de orientação e oferecer um ensino que seja tão motivador quanto os videogames que prendem os jovens por horas à frente de um computador”.
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